segunda-feira, 18 de julho de 2011

Dada - I



Movimento artístico iniciado em Zurique, Suíça, em 1916, em plena Grande-Guerra. Pais neutral, ali se refugiaram anarquistas, socialistas, desertores e pacifistas de toda a Europa, contrários à guerra. Formado por um grupo de escritores, poetas e artistas plásticos, entre eles Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp, os primeiros encontros foram no "Cabaret Voltaire". Na inauguração foi lido o seguinte poema:

jolifanto bambla o falli bambla
grossiga mpfa habla harem
égiga goramen
higo bloika russula hutu
hollaka hollala
blago bung…



No "Cabaret Voltaire", os dadaistas dedicaram-se a realizar espectáculos-provocação, ainda mais disparatados que os encontros Futuristas. Georges Hugnet narrou um deles:

"No cenário fazia-se música batendo sobre caixas com umas chaves até que o público meio louco protestava. Serner, em vez de recitar poemas, colocava um ramo de flores ao pé de um manequim de costura. Uma voz, vinda de um chapéu imenso com a forma de um pão-de-açúcar, recitava poemas de Arp. Huelsenbeck recitava os seus poemas a gritos, cada vez mais fortes, enquanto Tzara batia numa caixa enorme seguindo o mesmo crescendo. Huelsenbeck e Tzara dançavam com gritos de ursos, ou então, metidos num saco, com um tubo na cabeça baloiçavam num exercício chamado “noir cacadou”. Tzara inventava poemas químicos e estáticos…"





As formas principais da expressão dadaista foram o poema aleatório e o "ready-made". Veio abolir a lógica, a organização e a postura racional. A falta de sentido esteve presente também na escolha do próprio nome.
Para reforçar esta ideia foi estabelecido o mito de que o nome foi escolhido aleatoriamente, desta seguinte forma: Abrindo-se uma página de um dicionário e inserindo-se um estilete sobre ela. Isso foi feito para simbolizar o carácter anti-racional do movimento.

"Dada não significa nada: Sabe-se pelos jornais que os negros Krou denominam a cauda da vaca santa: Dada. O cubo é a mãe em certa região da Itália: Dada. Um cavalo de madeira, a ama-de-leite, dupla afirmação em russo e em romeno: Dada. Sábios jornalistas viram nela uma arte para os bebes, outros jesus chamando criancinhas do dia, o retorno a primitivismo seco e barulhento, barulhento e monótono. Não se constrói a sensibilidade sobre uma palavra; toda a construção converge para a perfeição que aborrece, a ideia estagnante de um pântano dourado, relativo ao produto humano."
Tristan Tzara

"Dada foi encontrado num dicionário, não significa nada. É o nada significativo cuja significação e significar alguma coisa. Queremos mudar o mundo com nada, queremos mudar a poesia e a pintura com nada e queremos vencer a guerra com nada"
Richard Hulsenbeck




"Dada não e mais nada que a rebeldia pura, o niilismo mais absoluto. O vitalismo niilista do movimento está contra todas as ideologias, toda a tradição anterior, e contra a própria arte e as suas vanguardas, incluído o próprio Dadaísmo. Desconfiai do dada!"
Tristan Tzara

"Quantos mais pintores, mais literatos, mais músicos, mais escultores, mais religiões, mais republicanos, mais monárquicos, mais imperialistas, mais anarquistas, mais socialistas, mais políticos, mais proletários, mais democratas, mais exércitos, mais pátrias, mais toda a clase de imbecilidades, mais nada, mais nada, NADA, NADA, NADA"
Manifesto dada

"Basta de academias cubistas e futuristas, laboratórios de ideias formais"
Manifesto dada



Não pretendiam fazer arte, mas sim gozar com ela; por isso Marcel Duchamp mandou um urinol a uma exposição de Nova York com o título "Fonte" e atreveu-se a pintar a "Gioconda" com bigodes.
O principal problema de todas as manifestações artísticas estava, segundo os dadaistas, em almejar algo que era impossível: explicar o ser humano:

"A obra de arte não deve ser a beleza em si mesma, porque a beleza está morta."
Tristan Tzara

"O dadaísta luta contra a angústia dos tempos e a embriagues da morte"
Hugo Ball




Em oposição a qualquer tipo de equilíbrio, combinação de pessimismo irónico e ingenuidade radical, cepticismo absoluto e improvisação, enfatizou o ilógico e o absurdo. A sua principal estratégia era denunciar e escandalizar:

"Eu redijo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípios contra manifestos (...). Eu redijo este manifesto para mostrar que é possível fazer as acções opostas simultaneamente, numa única fresca respiração; sou contra a acção pela contínua contradição, pela afirmação também, eu não sou nem para nem contra e não explico por que odeio o bom-senso."
Tristan Tzara



Foi na literatura, porém que o ilógico e a espontaneidade alcançaram a sua expressão máxima:

"O pensamento faz-se na boca."
Tristan Tzara



É impossível defini-lo como um movimento literário, sobre todo porque deixaram poucos textos. Tal como no Futurismo, foram mais interessantes as suas declarações e os seus manifestos em revistas. Limitaram-se a continuar, e a exagerar, a poesia fonética (versos sem palavras, assim lhes chamava Hugo Ball) dos futuristas, e os jogos visuais dos cubistas. Escreveram anti-poemas formados por palavras soltas, escolhidas ao azar ou inventadas. Usaram traços infantis e signos matemáticos em vez de nexos sintácticos.
O procedimento provocador do dadaísmo reflectiu-se muito bem nas normas de Tristan Tzara:

"Para fazer um poema dadaísta”:
  • Pegue um jornal.
  • Pegue na tesoura.
  • Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar ao seu poema.
  • Recorte o artigo.
  • Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
  • Agite suavemente.
  • Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
  • Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
  • O poema parecer-se à com você.
  • E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido pelo público.






Em 1917, Francis Picabia, refugiado também em Zurich, entrou em contacto com o grupo Dada. Picabia e Tzara publicaram em 1918 o Manifesto Dada.
Em 1919 um grupo de poetas da revista "Literatura" ( Aragon, Breton, Eluard) reclamaram a presença de Tzara em París. Na sua etapa em Paris, o dadaísmo conheceu o seu momento de maior efervescência, mas rapidamente Breton começou a interessar-se pela psicanálise e o mundo do inconsciente. Breton, muito influenciado pelas teorias de Freud, rompeu amizade com Tzara, e fundou uma nova vanguarda: o Surrealismo.
O Dadaísmo teve também importantes focos na Alemanha, com Huelsenbeck, e em Nova York, com Duchamp e Picabia.
A principal herança dadaista foi o Surrealismo. O Surrealismo nasceu assim das cinzas do Dada e os seus fundadores foram ex-dadaistas.
A sua proposta é que a arte ficasse solta das amarras racionalistas e fosse apenas o resultado do automatismo psíquico, seleccionando e combinando elementos por acaso. Sendo a negação total da cultura, o Dadaísmo defendia o absurdo, a incoerência, a desordem, o caos.

O fim do Dada como actividade de grupo ocorreu por volta de 1921.


Sites:

http://dadantiart.blogspot.com/

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